Hoje foi dia de conhecer mais uma história que transborda esperança.
Na manhã de hoje, na visita médica da enfermaria oncológica, tive a oportunidade de conhecer mais um daqueles pontos do universo que brilham sem muito esforço.
Tava ela lá no leito, tagarelando, contando dos seus sintomas, das suas dores e dúvidas desde o primeiro contato, como esperado para paciente oncológico com doença avançada em leito de enfermaria. Apesar de cateter de oxigênio baixo fluxo, sonda no nariz para controlar vômitos, desconfortos parcialmente controlados, tava lá disposta a conversar. Queria saber mais da doença diagnosticada recente, saber mais do futuro, queria manter-se no comando das decisões.
Com o cuidado necessário, as informações foram repassadas para que ela escutasse o que já sabia e o que já sentia acontecendo, mesmo sem terem verbalizado previamente. Ela está diante de uma doença avançada, incurável e muito provavelmente não terá oportunidade de voltar pra casa. Essa certamente será sua última internação.
Como checamos a esse ponto da conversa em tão pouco tempo de contato com ela? Era ela quem demandava e estávamos lá para oferecer o melhor diante dessas demandas. Rapidamente ela demonstrou que, apesar de toda ciência da gravidade, mantinha a esperança de dias melhores. E disse que está aqui até hoje por obra divina e continuaria confiando Nele. Entretanto, se fosse o momento de partir, também partiria tranquila.
Perguntei se tinha algum medo ou angústia diante de tudo que havia me falado. Nesse momento o silêncio dominou o quarto de internação. A primeira lágrima da conversa surgiu, uma lágrima tímida, carregada de muita força.
Depois de uma pausa na fala, de uma olhar profundo que gritava amor aos quatro cantos, ela consegue dizer que sentia muito pelo marido. 'Como ele ficará quando eu partir?'
Demonstrou muita tristeza ao imaginar o sofrimento dele com sua partida. E nessa hora foi a nossa vez, minha, dos acadêmicos e da filha, de segurarmos as lágrimas.
Logo ela nos quebra mais uma vez o silêncio. Estava lá aquele ponto brilhante, forte, dizendo que era só isso. Só era essa a sua angústia. Disse estar feliz e pronta pra o que acontecer. Mas que nunca perderia a esperança de melhorar e poder voltar pra casa.
Enquanto isso, se contentou enormemente com a visita do marido recebida no mesmo dia.
Esperança é isso. Essa força que nos faz resistir, nos faz focar no lado bom da vida; visualizar sempre a melhor das possibilidades, mesmo quando a chance de acontecer da forma que desejamos não seja tão favorável.
E ela seguiu lá brilhando no ambiente, sem outras demandas naquele momento, pronta pra mais uma nova visita do marido.
Todos nós temos motivos para acreditar ou não em dias melhores. E você? Como tem exercitado sua esperança? Se ainda não começou, não espere uma grande surpresa da vida para começar.