Constantemente somos convocados a viver situações inesperadas. No dia a dia das nossas profissões, no convívio familiar ou mesmo como indivíduo na sociedade, surgem convites diários para uma experiência inesperada. Um conflito no ambiente de trabalho, um filho com febre, um teste de gravidez positivo, uma batida no carro, uma nova proposta de emprego, uma guerra no outro lado do mundo…
Como reagimos a essas misturas de eventos? Conseguimos enxergar uma montanha russa de emoções diárias que estamos sendo submetidos? Ou deixamos o piloto automático ligado, com o objetivo (inconsciente) de sentirmos menos o frio na barriga com uma descida abrupta e também não vermos a bela vista quando o carrinho desse brinquedo esta lá no topo dos trilhos?
Para o oncologista essa rotina de subidas e descidas não é diferente. Muitas vezes elas acontecem em questão de minutos, como no brinquedo citado. E como passar por isso sem ligar o piloto automático?
Nesses dias precisei passar por uma queda abrupta envolvendo uma comunicação de uma má notícia a um paciente em tratamento com quimioterapia, seguida de uma convocação pela enfermagem para comemorarmos o último dia de infusão de quimioterapia de uma paciente que estava concluindo o tratamento oncológico.
Era um embrulho no estômago causado pela primeira cena associado a um sorriso no rosto para fotos, balões e festinha da cena seguinte.
Eu tentei suprimir o sentimento causado pela cena anterior e viver plenamente aquele momento de festividade mas confesso que não consegui. Foi possível comemorar, mas o estômago ainda estava embrulhado.
A medida que o tempo avança, a gente vai aprendendo a passar por essas situações de uma forma melhor, o que envolve um processo de autoconhecimento.
É nesse ponto que acredito estar a chave para não ligarmos o piloto automático quando a vida nos convida a um passeio numa montanha russa. Quando a gente consegue olhar pra dentro, reconhecer nossas fragilidades e nossas forças, fica mais fácil aceleramos ou frearmos esse carrinho.
Na ocasião citada, conversei com a enfermeira e a farmacêutica imediatamente antes de pularmos para segunda cena de festividade. Esclareci sobre a dor do paciente da primeira cena, compartilhei a minha dor e nos acolhemos. Na sequência levantamos a cabeça e já estávamos mais fortes para juntos festejarmos com a outra paciente o seu último dia de tratamento.
E você? Como tem caminhado nesses trilhos da vida? Tem conseguido manter o controle do acelerador e do freio para viver cada momento da melhor forma? Ou o piloto automático se mantém acionado?