Numa entrevista de emprego é comum se perguntar ao entrevistado sobre um caso bem sucedido, um caso de sucesso vivido por ele. Estava eu numa entrevista de emprego recente, a refletir sobre um caso. E o primeiro questionamento que vêm a mente: o que é visto como caso de sucesso na oncologia?
Sucesso é contribuir para o diagnóstico precoce de um câncer, possibilitando um tratamento efetivo;
Sucesso é agilizar todo o processo de tratamento de um tumor agressivo, oferecendo a melhor opção possível para o paciente, resultando numa condição final livre da doença;
Sucesso é orientar não só os pacientes, como também os familiares, para que façam exames de rastreio quando indicado;
Sucesso é tudo isso mesmo, situações comuns na prática do oncologista. Mas um questionamento predominou em minha mente ao preparar a apresentação para essa entrevista: e os pacientes que evoluem da forma que não gostaríamos? Aqueles que já estão com doença avançada ao diagnóstico ou evoluem ao longo do tempo para doença metastática, sem possibilidade de tratamento com intenção curativa, serão sempre vistos casos de fracasso?
A resposta para essa pergunta é muito simples para mim. Não! Todos os pacientes oncológicos podem sim representarem um caso de sucesso. O sucesso do caso, não está apenas no controle ou na cura da doença oncológica. O sucesso está na trajetória que cada paciente trilha nessa jornada tão única. E eu, como profissional, tento doar meu melhor para que essa trajetória seja bem trilhada desde o ponto de partida até o ponto de chegada, qualquer que seja ele.
Voltando a minha entrevista de emprego, decidi citar então o caso de uma paciente bem jovem com tumor ginecológico avançado, sem perspectiva de tratamento curativo, mas que recebeu a melhor assistência possível, não só um tratamento oncológico adequado, mas todo cuidado e amor de todas as equipes envolvidas no seu tratamento. Comemoramos seu aniversário de 15 anos na UTI, mas era ela quem nos enchia de presentes.